Hoje estaremos postando uma adaptação do devocional produzido como projeto de conclusão do Mestrado em Formação Cristã e Discipulado do nosso Centro, que abre uma nova turma em fevereiro de 2020. Se você tem interesse em saber mais sobre o próximo curso, pode ler aqui e entrar em contato para mostrar seu interesse.
Ontem nós lemos o início sombrio e desesperador do salmo 13, hoje podemos ler o final dele;
O Final do Salmo 13
Eu, porém, confio em teu amor; o meu coração exulta em tua salvação,
Quero cantar ao Senhor pelo bem que me tem feito.
Na imagem abaixo está a famosa pintura de Tomé inspecionando as feridas de Jesus. Muitas imagens que representam a ressureição pendem para o sentimental, o fantástico, o etéreo. Mas o realmente incrível é que Deus levantou Jesus em um corpo que nunca provará da morte novamente. Eu gosto da pintura de Caravaggio por ela nos mostrar Jesus como verdadeiramente humano.
Alguns anos atrás eu participei do culto da vigília de Páscoa da Catedral de São Jorge, na Cidade do Cabo. É uma Catedral enorme e o local de ministério e resistência do Arcebispo Desmond Tutu durante o período do Apartheid. O culto foi uma das experiências mais imersivas sobre a história do evangelho em que eu já participei.
Este culto foi como uma parábola estendida sobre o impacto da ressureição. À medida em que você ler a descrição, pense de forma literal, mas também use sua imaginação para ver a forma com a qual ele funciona como uma experiência simbólica da história que está representando.
Começa às 22h30, o que para a maior parte de nós é o final do dia. No cansaço, chegando ao nosso limite, mas cheios de expectativas, entramos nessa enorme catedral, sendo engolidos pela escuridão. Apenas os ecos traem o tamanho do espaço. Uma pequena vela apagada é dada para cada pessoa junto com uma liturgia de várias páginas. A vigília de páscoa terá 3 horas de duração.
O culto começa contando a história da criação e como havia luz na escuridão. Todos acendem suas velas para poder participar da liturgia que acontecerá em seguida. Devagar, nossos olhos se ajustam à fraca luminosidade. Começamos a perceber os rostos iluminados pelas velas por todo o corredor e o reflexo das luzes revela os enormes pilares de pedra que vão até o teto na escuridão.
Uma hora e meia se passa e durante esse tempo as histórias da caminhada dos israelitas pelo deserto, guiados por nuvens durante o dia e colunas de fogo durante a noite, histórias da libertação do Egito e das palavras dos profetas predizendo a vinda do Messias. Hinos são cantados sem acompanhamento instrumental e as vozes enchem o espaço de som.
Em seguida, a narrativa da Semana Santa é resumida, pois já havia sido detalhada em uma série de cultos ocorridos na semana anterior. A narrativa da ressurreição começa, e no momento em que fala-se de Jesus emergindo do túmulo, as luzes da catedral são acendidas, o órgão ressoa e o coro começa a cantar.
É uma sobrecarga sensorial que espelha a experiência do narrador no livro “O Grande Abismo”, de CS Lewis, que experimenta a dor da solidez e realidade do Céu. A natureza real da Catedral estava camuflada em escuridão até agora, e agora está completamente iluminada, o pé-direito alto e o comprimento da construção são completamente revelados. E os adoradores também estão, brilhantemente, iluminados e piscando para reajustar a visão a essa luz resplandecente, aguda e reveladora. A congregação rapidamente se cumprimenta e voltamos para ver os catecúmenos (candidatos ao batismo) respondendo às perguntas do Arcebispo antes do batismo que será no dia seguinte.
Esta foi uma experiência tangível do que aconteceu na ressurreição. Olhos que estavam acostumados com a escuridão são cegos pela luz. A grandeza e o espaço que estava obscurecido em escuridão é revelado como beleza. À medida em que ajustamo-nos à nova forma de ver, observamos nossos vizinhos, estranhos e até inimigos, e os abraçamos como família. Celebramos a nova vida dos outros e de toda a criação.
O Jardineiro da Nova Criação
O domingo da Ressureição é o evento determinante do calendário cristão. Assim como a morte de Jesus na cruz não era a consequência esperada do messias de Deus, a ressurreição no meio da história não era a realidade que as pessoas haviam antecipado.
Muitos Judeus acreditavam em uma ressureição, mas isso no fim dos tempos e para todos. Essa era uma realidade sem precedentes, não por não terem presenciado alguém voltar à vida antes (Jesus já havia feito isso com Lázaro), mas por causa do significado da ressureição de Cristo.
Os primeiros cristãos compreendiam a ressureição de Cristo como o início do trabalho de Cristo de nova criação. Ele foi a primícia, o primogênito entre aqueles que estavam mortos. Mas, o que exatamente isso significa?
Bem, a dica é quando Ele aparece pela primeira vez.
“Nisso, Maria Madalena se virou e viu Jesus ali, de pé, mas não o reconheceu…achou que ele era o jardineiro.” (João 20:14, 15)
Algumas coisas são significativas aqui. Primeiro, Ele aparece a uma mulher. Na Palestina do primeiro século, o testemunho dela não teria valor em um tribunal. Ela não pode ser uma testemunha no mundo e ainda assim, ela é comissionada como a primeira pregadora do evangelho nas escrituras! Em segundo lugar, o erro dela (um erro profético, na minha opinião) é que Jesus era o jardineiro.
Adão falhou na sua vocação de carregar a imagem e semelhança, como cuidador do jardim. Agora Jesus é o segundo Adão, o verdadeiro jardineiro. Jesus também é a semente plantada no Jardim.
“Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.” (João 12:24)
Esse jardim trouxe os primeiros frutos da ressurreição. Ele é tanto o primeiro fruto quanto aquele que cultiva essa nova vida de fé em todos que creem! Através de Adão o jardim se tornou um terreno baldio, um deserto e uma vastidão selvagem. Através de Jesus, o jardim será restaurado e um exército de jardineiros será elevado com Ele para se unir a Ele.
Na cena final do livro Apocalipse, João vê a nova terra vindo dos céus. Como ela é? Um Jardim no qual a Árvore da Vida permanece!
Com a ressureição de Jesus, Deus começa seu projeto de nova criação. Com sua ascensão e com o envio do Espírito no Pentecoste, somos recrutados para ser aqueles que cultivam o deserto.
NT Wright fala assim;
“A missão da Igreja é nada mais nada menos do que trabalhar mais no poder do Espirito, da ressurreição corpórea de Jesus. É a antecipação do tempo em que Deus encherá a terra com a Sua glória, transformar os antigos céus e terra em novos e ressuscitar seus filhos dos mortos para popular e governar o mundo redimido que Ele fez.
Se é assim, a missão deve se recuperar urgentemente de sua esquizofrenia de longo-prazo. A divisão entre salvar almas e fazer o bem no mundo não é um produto da Bíblia ou do evangelho, mas do cativeiro cultural de ambos. O mundo de espaço, tempo e matéria é onde as pessoas reais vivem, onde as comunidades reais acontecem, onde as decisões difíceis são tomadas, onde as escolas e hospitais testemunham o “agora e já” do evangelho enquanto a polícia e as prisões testemunham o “ainda não.”
O mundo de espaço, tempo e matéria é onde parlamentos, câmaras municipais, grupos de vizinhança e outros espaços parecidos estão organizados e lutando pelo bem da comunidade maior, a comunidade onde anarquia significa que valentões sempre vão ganhar, onde o mais fraco e vulnerável sempre precisará de proteção e onde as estruturas sociais e políticas da sociedade são parte do plano do Criador… e a Igreja que é renovada pela mensagem da ressureição de Jesus pode ser uma Igreja que vai trabalhar precisamente neste espaço, tempo e matéria. A igreja reivindica esse mundo como o lugar do Reino de Deus, do senhorio de Jesus e do poder do Espírito.”
— Pause e reflita —
Onde você vê deserto e terrenos baldios à sua volta nesse domingo de ressureição? Como esse lugar seria se alguém que carrega a imagem e semelhança de Deus fielmente, cultivasse-o e o tornasse um jardim?
Eugene Peterson escreveu um livro sobre formação espiritual chamado “Viva a Ressurreição”, como seria viver a ressurreição para você?
Pense em formas de adotar o desejo santo de ser formado mais e mais à semelhança de um jardineiro da nova criação, para o bem da sua comunidade e do mundo nessa Páscoa.