Quando meu irmão tinha três anos, ele queria ser uma jiboia. Quando adulto, ele decidiu se tornar um médico. Na formatura do jardim de infância de meu filho, as crianças anunciaram suas futuras carreiras: “Biólogo marinho”. “Arquiteto”. Três crianças seguidas declararam que seriam arqueiros! Cada criança, de médicos em potencial a jiboias, estava 100% confiante de que essa poderia ser a trajetória de suas vidas. Nós, adultos, não diríamos ao garoto que quer ser uma cobra que é hora de encarar a realidade. Sabemos que, à medida que amadurecem, eles vão descobrir que a vida não é tão simples assim. Tiro com arco não vai pagar as contas. Os humanos não podem cultivar escamas. A faculdade de medicina é cara. Ainda é possível – tirando as escamas – mas, para alcançá-lo, você precisa ser realista sobre o caminho em que está embarcando.
Como aquelas crianças, os crentes têm uma imagem interna e inconsciente de como achamos que o crescimento e o amadurecimento cristãodevem ser. Este ideal interior e desarticulado tanto nos impulsiona como nos envergonha. Ele nos diz que tipo de cristão “deveríamos” ser. A maioria de nós vive sem saber sequer que está falando conosco. Sua voz está cheia de medidas e comparações.
O que a sua imaginação interior lhe diz sobre como deve ser o caminho do amadurecimento cristão?
Para alguns, seu ideal interno é assim: uma escada de picos e vales. Em última análise, eles estão indo para um destino mais alto. Eles estão alcançando o último pico depois de terem aprendido todas as lições de refinamento de caráter necessárias nos vales de interrupção. Finalmente! Eles chegaram a…? (Preencha o espaço em branco.)
Para outros, o ideal interior ao qual eles comparam sua própria jornada de fé é uma flecha ascendente, apontando para uma vida sobre-humana. (Não devemos ser “transformados de glória em glória”?) Se vivermos esse tal de cristianismo corretamente, não deve haver nenhum vale, nenhuma dúvida, nem qualquer retrocesso, doença ou pobreza. A lista pode continuar dependendo do histórico denominacional. Com bastante fé e o Espírito Santo, o amadurecimento cristão deveria ser uma ascensão constante para…? (Preencha o espaço em branco.)
O ideal interior de cada um pode ser um pouco diferente e todos contêm alguma verdade. Os vales da vida de fato instruem nossas almas. Sinais e maravilhas fazem parte da vida de reino. Você pode estar dizendo (corretamente) que seu objetivo é ser aperfeiçoado na imagem de Cristo. Mas a maioria de nós é como uma adolescente cercada por modelos de capa de revista tratadas pelo photoshop – nossa visão da perfeição cristã é um pouco distorcida. Mesmo esse ideal interior provavelmente precisa de uma boa sacudida! Se o objetivo final da sua caminhada espiritual é aperfeiçoá-la para garantir as bênçãos, a realização, os milagres ou o destino de Deus… isso não é uma trajetória cristã.
“O relacionamento com Deus não é um meio para um fim, não é uma maneira de obter um tesouro; em vez disso, Deus é o nosso tesouro.” – Skye Jethani
Se você foi ensinado que pode alcançar a impecabilidade, evitar o sofrimento, o fracasso ou a dor… ou, pelo menos, atravessá-los em nuvens fofas e macias, sustendadas pelo Espírito, então você está buscando o nirvana e não o céu. Ser transformado por Amor em amor não significa que você se tornará algo além de humano, não mais tocado pela paixão ou pela dor da pele em que vive ou do mundo que habita.
Dr. Benner sugere que somos ao mesmo tempo “seres espirituais em uma jornada humana” e “seres humanos em uma jornada espiritual”.
““Ambas as viagens são cruciais e cada uma deve complementar a outra. Qualquer religião ou espiritualidade que busque nos tornar menos ou mais que humano é perigosa”. Aqui está outra maneira de imaginar como o desenvolvimento espiritual anda de mãos dadas com o desenvolvimento humano.”
Este diagrama se refere aos 6 Estágios de Fé de James Fowler, descritos em [Parte 1]. E vamos olhar em profundidade as etapas específicas nas partes 3 e 4.
Imagine que o círculo abaixo é você. É a sua identidade.
Onde está Deus neste diagrama?
Ele está em todo lugar! Ele preenche tudo. Sua verdade e Seu amor permeiam a totalidade do modelo, só somos pequenos demais para ver tudo de cara, pequenos demais para trazê-lo para dentro de nós mesmos. À medida que progredimos através destas fases de fé, crescemos e expandimos. Jesus disse a respeito de Si mesmo e do Pai: “Nós viremos a ele e faremos morada nele” (João 14:23).
Imagine que o tamanho da casa que você construiu para Deus é o círculo menor, esperando para ser preenchido com uma compreensão experiencial de quem Deus é e quem você é para Ele. As linhas entre cada círculo representam barreiras entre cada estágio de expansão. Você sentirá a pressão da pequenez do seu mundo em certas idades, convidando-o a desmantelar seu último lar e caminhar para um sentido mais amplo de si mesmo e de Deus. Além disso, grandes circunstâncias da vida – que nos expandem dolorosa e maravilhosamente – nos convidam a esse processo de destruição e reconstrução. Essas transformações produzem a semelhança de Cristo.
Os Círculos e Estágios da Fé:
Mamãe & Eu – Quando você nasceu, sua vida consistia apenas do menor círculo. Era só você e sua mãe e pai (ou quem te criou) e irmãos. Eles definiram o seu mundo e identidade. As crianças de todos os lugares importunam os pais com a frase: “Olhe para mim! Olhe para mim!” Em termos de desenvolvimento, há uma razão para isso. Nossas reações aos nossos filhos definem o fundamento de sua identidade. Essencialmente, eles estão dizendo: “Eu existo porque você me vê, e eu me torno o que você vê” (Estágio 1,2 / Literalista).
Minha Tribo – À medida que você cresce e seu mundo cresce, você assume mais significado e identidade derivados de seus amigos, sua cultura, comunidade de fé, etc. Uma vez, meu filho estava conversando com seu amigo sobre Deus enquanto eu dirigia. Seu amigo respondeu por si e por sua família: “Não acreditamos em Deus. Somos ateus”. A identidade é formada neste estágio, ao determinar: “Nós não somos aquilo; portanto, sou isso. Essa identidade me faz sentir bem e seguro. Faz o mundo ter sentido para mim.” (Estágio 3 / Legalista)
Além da Minha Tribo – Alguns têm relações autênticas com aqueles que são muito diferentes deles. Alguns têm desafios que mudam a vida (doença, morte, divórcio, etc.). Alguns terão experiências de ampliação da sua cosmovisão (viagens prolongadas, educação adicional, etc.). Cada um será um convite para expandir sua identidade para além de sua tribo à medida que coletam significado daqueles que desafiaram seu modo anterior de ver o mundo ou as circunstâncias que ameaçavam seu sistema de crenças. (Estágio 4 e 5 / Crítico para Vidente)
Meus Inimigos – Muito poucos de nós amadureceremos nesse círculo externo. Aqueles que estão nesta fase não podem deixar de ver a imagem de Deus em todas as pessoas, até mesmo em seus inimigos. Eles encontram uma maneira de comungar com Deus e com o mundo em seu sofrimento de uma maneira que é subversiva para os poderes religiosos e políticos, mas eles são profundamente humanos e totalmente vivos. (Estágio 6 / Santo – Exemplos como: Dietrich Bonhoeffer, Madre Teresa e, claro, Jesus…)
Eventos que podem causar a transição do estágio de fé:
- Sofrimento (morte, divórcio, doença)
- Mudanças de trabalho
- Mudar-se (especialmente transculturalmente ou de casa pela primeira vez)
- Encontros com experiências ou perspectivas que causam séria reflexão crítica sobre as crenças e valores da pessoa
- Contradições entre fontes de autoridade valorizadas
- Envelhecimento
- Filhos crescidos que saem de casa
- Maiores decepções de vida: prolongamento da solteirice (se o casamento for desejado), falta de filhos (se assim for desejado), carreira e escolhas de vida das quais se arrepende.
Qual é a boa notícia sobre essa imagem interna do desenvolvimento da fé?
Sua vida real, confusa e humana não é uma interrupção ou desvio nos olhos de Deus. Sua vida é a principal ferramenta de discipulado de Deus para você. Em vez de superá-la ou escondê-la por vergonha, fomos criados para aprender com ela, ser hospitaleiro, senti-la, tocá-la, prová-la, rir e chorar com ela… e, finalmente, descobrir a comunhão com Deus em tudo. O objetivo não é chegar, é permanecer. Então, respire fundo. Deus se mudou para dentro da sua vida e Ele está no processo de te libertar para entrar completamente na vida Dele. Neste lugar, há espaço para viver, mover e existir.
“É muito doloroso perceber que você não cabe mais na forma que você tem chamado de casa por tanto tempo. Todos nós passamos por isso de alguma forma. Cidade natal. Perspectiva. Até mesmo a prática religiosa. A prática religiosa é difícil porque toda prática religiosa é sobre identidade e onde nós sentimos que pertencemos… Mas, a maravilha e o dom da transformação é este: Despertar para a verdade que sua concha nunca foi sua casa. O oceano é.” – Scott Painter
Referências e Estudo Adicional:
Benner, D. G. (2012). Spirituality and the Awakening Self: The Sacred Journey of Transformation.
Fowler, J.W. (1995). Stages of faith: The Psychology of Human Development and the Quest for Meaning. (First published in 1981).