Eu acordei várias vezes ontem à noite para amamentar nosso bebê, então meu marido preparou o café da manhã para nós. Vesti quatro pessoas, troquei várias fraldas, enxuguei lágrimas, negociei cores de tigelas, escovei vários dentes, resolvi algumas disputas acaloradas, pedi desculpas pela minha frustração e distribuí meia dúzia de abraços e beijos… isso tudo antes das 9h!
Como mãe de três filhos com menos de quatro anos, meu cérebro muitos dias parece não funcionar tão bem, mas meu corpo talvez nunca tenha trabalhado tanto. No entanto, a fisicalidade desta nova estação se tornou um meio da graça de Deus para mim; um aspecto da minha fé que havia sido negligenciado anteriormente. É um processo de refinar e tornar tangível minha caminhada com Jesus como nunca antes. Deixe-me tentar explicar por que…
Vivemos em um mundo digitalmente carregado. Nossas interações diárias com outras pessoas geralmente ocorrem por meio de nossos dispositivos, sem precisar sequer estar no mesmo local. Isso trouxe flexibilidade e conveniência incríveis ao nosso mundo, mas também significa que muitas de nossas vidas e relacionamentos acontecem de uma maneira ‘desencarnada’. Como uma família que serve no exterior, sou incrivelmente grata por meus filhos poderem ver e conversar com os avós que moram em outro lugar via Skype. Também sei que eles precisam de amigos que agem com família por perto: pessoas que comem em nossa casa e que brincam e riem com elas na carne. E nós também precisamos. O design pretendido por Deus para nós, como seres humanos é, de fato, corpos! Nós somos pessoas encarnadas. Algo inegável sobre a paretalidade inicial e o cuidado de crianças pequenas em geral é que é incrivelmente físico. Acho que eu não percebi o tanto até suportar a formação dos nossos bebês dentro do meu próprio corpo, balançar uma criança doente em meus braços até o sol nascer ou a luta para colocar pijama nos meus filhos todas as noites. O banhar, limpar, abraçar, pegar no colo ou balançar exigido do meu corpo todos os dias é surpreendentemente exigente. Não há nenhum aplicativo no meu telefone ou dispositivo digital que possa substituir meus cuidados e a minha presença física com meus filhos. Nosso relacionamento tem que ser corporificado.
A neurociência nos mostra que bebês recém-nascidos entram no mundo imediatamente procurando conexão com outro ser humano. Seus novos olhos embaçados procuram desesperadamente um conjunto de olhos amorosos olhando para eles. O conforto do abraço do cuidador é o que literalmente constrói e desenvolve seus intrincados cérebros e faz com que eles saibam e experimentem que são amados e valiosos. Somos feitos para conexão com os outros, e os corpos humanos são a maneira que Deus nos projetou para viver e amar neste mundo. Nada me ensinou a abraçar a importância disso como a maternidade! Nossos corpos não são apenas um pensamento secundário, um cabide de roupas ou simplesmente irrelevante; eles são os meios pelos quais cuidamos e amamos as pessoas ao nosso redor. O que Deus tem me ensinado nesta estação improvável é a importância de nossos corpos também em nossa jornada de fé.
Temos que abordar nosso relacionamento com Deus com essa realidade em mente. Durante a maior parte da minha vida, o crescimento do meu relacionamento com Deus foi atribuído a atividades muito específicas. Tempos de devocional, leitura da Bíblia, ouvir sermões e participar de cultos na igreja eram os lugares comuns em que eu esperava que Deus se encontrasse comigo. Essas atividades às vezes me levavam a contar a outras pessoas sobre Ele, transmitindo as informações e conhecimentos que eu estava recebendo para outras pessoas. Todos aspectos maravilhosos do reino. Mas, na maior parte, a parte ‘de Deus’ do meu mundo foi relegada à minha mente. Relacionar-se com Deus era sobre o pensamento correto, e o conhecimento correto e, esperançosamente, se eu conseguisse fazer essas coisas corretamente, o comportamento correto seguiria. A participação do meu corpo na minha vida de fé sempre foi secundária… até recentemente. Enquanto navegava em meu relacionamento com Deus nesta nova estação de pequeninos, meus antigos meios de caminhar com Ele nem sempre eram tão atingíveis quanto antes. Muitos dias, simplesmente dormir parecia uma impossibilidade… e um tempo devocional sozinha era uma coisa do passado.
Meu marido e eu continuamos a frequentar os cultos da igreja, mas entre amamentar e manter as crianças ocupadas, eu perdia regularmente os sermões ou os horários da mensagem. Eu também notei que meus colegas estavam abalados por essa transição para a paternidade e vi muitos desistindo da comunidade da igreja por completo. Outros deixaram suas próprias necessidades espirituais de lado, acreditando que “agora é tudo sobre a criança”. Às vezes, me sentia esmagada pela expectativa de criar momentos adicionais para envolver Deus em minha vida da maneira que costumava fazer antes. Mas certamente nesses anos de formação para meus filhos, ainda havia esperança de que eu também pudesse ser formada? Mas como, quando minha capacidade já estava tão reduzida?
Ao contrário dessa maneira de pensar, comecei a descobrir que as ações repetidas do meu corpo físico nessa estação da maternidade eram na verdade práticas extremamente modeladoras e contraculturais que representavam o tipo de vida que Jesus demonstrava. Nossa cultura nos diz: ‘Siga o caminho fácil’; ‘Faça a coisa mais divertida’; ‘Quando não está construindo sua própria felicidade, siga em frente’; ‘Evite o que você não pode controlar’. Curiosamente, este não é o coração de Deus para nós – e não é o tipo de pessoa que ele está nos chamando para ser ou criar. O compromisso de longo prazo como pais cria em nós esse tipo de caráter centrado no outro. Mesmo quando lutamos e clamamos a Deus em desespero no meio da madrugada, continuamos assim mesmo. De alguma forma, persistimos em nossos momentos mais fracos – e isso está nos formando de maneiras profundamente semelhantes a Cristo. A ação física de cuidar do outro está nos mudando.
“Nossos corpos são um aspecto crucial da nossa humanidade. Eles fazem parte da boa criação de Deus. Nossa esperança como cristãos é uma esperança incorporada. O que fazemos com nossos corpos é importante para nossas almas ” (Jones, Dwell)
À medida que minha vida passou por uma transição, o mesmo aconteceu com meu relacionamento com Deus. Comecei a perceber que Deus não estava querendo ser mais um afazer na minha lista, e Ele não era acessível apenas em ambientes calmos com músicas cuidadosamente selecionadas. Na verdade, Jesus não é estranho às demandas da vida humana e está muito interessado em caminhar ali mesmo, no meio do meu caos. Descobri que esses anos de formação para meus filhos são realmente tão formativos para mim… se eu permitisse que Deus se encontrasse comigo exatamente onde estou. Nas ações do meu corpo, na minha vida cotidiana bagunçada e autêntica. Os tipos de coisas que Jesus fez com sua vida eram muitas vezes ações simples e corporificadas – comer e andar, pescar e cozinhar. Ele tocou as feridas das pessoas, coletou água com elas, lavou os pés e preparou o café da manhã. Eu percebi que havia comprado uma mentira de que Deus me encontraria em algum lugar “melhor” ou mais quieto ou mais organizado do que a minha realidade atual. Quando a verdade é que Ele é Emanuel; Deus CONOSCO. Deus comigo, exatamente onde eu me encontro.
“Como passo este dia comum em Cristo, é como passarei minha vida cristã” Tish Harrison Warren
Eu tenho um Deus que deu tanta importância aos seres humanos que ele enviou Jesus ao nosso mundo. Ele andava com pessoas no meio de seus problemas familiares, da sua fome e sede, através de casamentos e velórios, nas comemorações e nas tristezas. Da mesma forma, Ele está comigo nas minhas noites sem dormir, nas minhas batalhas de cor de tigela no café da manhã e na minha cozinha cheia de biscoitos e giz de cera espalhados. Só posso concluir que esses pequenos momentos da vida não são insignificantes ou irrelevantes para Ele. Mais do que isso, porém, esses pequenos atos físicos de sacrifício e serviço no espaço oculto da minha casa e família têm o potencial de me formar para amar as coisas que Deus ama. Vou compartilhar mais sobre isso no próximo post.
Quais tarefas comuns estão à sua frente hoje? Como você pode se tornar mais atento a Emanuel (Deus com você) nessas ações hoje? Incluí duas sugestões abaixo:
- Reserve um momento extra para olhar nos olhos dos seus filhos e estudar os rostinhos deles enquanto você os coloca na cama hoje à noite. (Se a sua casa é parecida com a minha, a hora de dormir é uma ‘loucura’ e estou ansiosa para conseguir fazê-los dormir o mais rápido possível). Passe um tempinho contemplando a sua pequenez, seus sorrisos e até suas emoções descontroladas. Aperte a mãozinha ou passe as mãos pelos cabelos. Reserve um momento para olhar para a criação do Senhor correndo pela sua própria casa.
- Quando você se deitar na cama esta noite, exausta e dolorida, ao fechar os olhos cansados, agradeça ao Senhor pelo dom de descansar. A necessidade de descanso regular não é um fardo que devemos suportar, mas um presente que Ele nos deu – um lembrete de que não somos indispensáveis, nem infinitos em nossas habilidades ou energia. Deus nos projetou para precisar dormir. Mesmo quando nosso trabalho permanece inacabado, descansamos e confiamos nossas vidas e nossos dias em Suas mãos, acreditando que Sua misericórdia é verdadeiramente nova para nós todas as manhãs.
Para explorar mais esse tópico, confira o e-book devocional de Michaela, A Parent’s Invitation to Spiritual Re-formation: How the Practices of Parenting Become Disciplines Leading Us Back to the Ways of Jesus