Encerramos nosso último artigo refletindo em como Cristo apresenta a liderança do Reino lavando os pés dos Seus discípulos. Hoje, consideraremos a forma de abordagem e como usar as perguntas de maneira a convidar pessoas a se envolverem com Deus e com outros, revelando sua história.
A abordagem é importante
Uma amiga foi pega fazendo algo que missionários “não devem fazer”, e sua equipe esperava que eu resolvesse se ela deveria ir ou não em sua viagem missionária depois do ocorrido. Apesar da diferença de idade e de cultura, eu era a pessoa com autoridade, então, o que eu dissesse aconteceria.
Sentei com ela e fiz algumas perguntas. Eu não a repreendi, e não insisti em enfatizar regras… eu simplesmente fiz perguntas. E ela se abriu. Ela se abriu sobre seu medo de errar de novo, e que parte das razões que a levaram a escolher fazer o que fez era um tipo de auto-sabotagem. Ela ficou extremamente grata que minha resposta mostrava que eu a amava mais por quem ela era do que pelo que ela poderia fazer para Deus, e à luz de tudo isso ela se arrependeu e se comprometeu a viver um estilo de vida que exalasse Cristo, estando em missões ou não. Encorajadoramente, ela foi contar a outras pessoas sobre a misericórdia e a bondade de Deus que nos leva uma comunhão de amor uns com os outros.
Que tipo de perguntas eu fiz? Definitivamente não foram “como você teve a coragem…? Como você pode…? Você tem alguma ideia…? Você não entende que…?” Esse tipo de pergunta não estimula vulnerabilidade, mas gera vergonha e faz com que as pessoas se fechem. Infelizmente, essas perguntas são feitas também com nosso tom de voz e linguagem corporal mesmo quando não são verbalizadas. Ao contrário, eu aprendi a encorajar vulnerabilidade que leva à revelação e verdadeira transformação.
Eu uso agora perguntas do tipo: “Me ajude a entender o que você passou nessa situação…?” “O que você esperava que acontecesse se…?” ou “Que áreas da sua vida você espera que Deus conserte hoje, esse ano? Como você se sentiria se Ele não o fizesse?” Nesse tipo de pergunta, eu posso oferecer suporte emocional ao invés de respostas. Aqui, dou espaço para que o outro explore e compartilhe esperanças e sonhos, medos e falhas. Meu objetivo é criar um espaço livre de julgamento e vergonha que permitem o Espírito Santo se tornar mais presente através das respostas amorosas. Esse método de discipulado requere a confiança em que o Espírito Santo irá atrair o outro a Cristo de forma mais profunda.
Clareiras abertas
No início de minha jornada facilitando o crescimento de outros, experimentei resultados desastrosos baseados no tipo de abordagem que fiz. Se eu perguntasse com tom de acusação, eu colhia autodefesa e vergonha. Se eu oferecia conselho após a primeira pergunta, a conversa terminava antes mesmo de dar chance ao outro de sair do esconderijo para uma comunhão verdadeira. Eu percebi que precisava investir um pouco mais na conversa em si!
Eu comecei a “estar presente” tanto física como emocionalmente, quando me encontrava com as pessoas. Eu aprendi a perguntar sobre a trajetória de vida delas, e enquanto eles compartilhavam eu ouvia e continuava com as perguntas guiadas pelo Espírito. Isso demanda que eu resista minha compulsão de oferecer conselho e ensino e tomar as rédeas com a minha própria história e como eu experimentei “isso e aquilo”. Dietrich Bonhoeffer, teólogo e ativista, chama isso de “o ministério da escuta”.
Nesse tipo de diálogo, eu imagino que abro uma clareira numa floresta fechada para nós dois… e preciso ter paciência com o processo. Tiro as pedras de tropeço de julgamento ao nosso redor, corto arbustos e cercas de medo e vergonha e convido a presença de Deus. Então, quando sentamos nessa clareira podemos relaxar nossos corpos e deixar os corações emergirem. Meu trabalho na clareira significa honrar a história do outro e seu próprio contexto para compartilhar. E então, se escuto bem, perguntas guiadas pelo Espírito vão iluminar onde Cristo já está ministrando e trabalhando neles. Nesses momentos, experimentamos a comunhão um com o outro através de Cristo, pela presença do Espírito Santo.
Quando trabalhamos para criar espaço para que outros se tornarem vulneráveis num ambiente de amor, encontramos Cristo já trabalhando para curar e redimir, e nossos dons se tornam uma maneira de guiar o outro de volta a Cristo.
Imagino que foi um momento como esse que aconteceu para o cego Bartimeu (Marcos 10:46-52). Quando Jesus lhe pergunta, “O que você quer que eu te faça” Jesus afirmava a dignidade do pedinte cego oferecendo espaço para que ele expressasse seus desejos. Aqui, Jesus lembra Seus discípulos que não é só de milagres que as pessoas precisam, mas presença e atenção. E a esperança que juntos vamos encontrar Cristo como Aquele que cura, a esperança e a fonte de vida entre nós.
Na prática
Encontre um espaço tranquilo onde você possa escrever suas respostas pessoais às questões abaixo. Marque qualquer questão que te ajude a se engajar com Deus honestamente ou chegar ao fundo do seu problema. Depois que você experimentar responder essas questões para Deus, pense em algum amigo, um momento de discipulado ou um membro da famíia para quem você poderia trazer algumas dessas questões que poderiam lhes ajudar em sua jornada com Deus.
- Onde você percebeu o Senhor se chegando a você num momento de estresse ou de dor? Ou medos e frustrações? Em momentos de alegria e celebração?
- Quais as áreas de sua vida te dão mais energia e trazem vida? Em que lugares e atividades você se sente mais perto de/experimenta mais Deus?
- Como a extrema graça e a bondade de Deus se mostram para você nesse momento através de um amigo? E de Deus?
- O que você espera acontecer esse ano? Como você sentiria se isso demorasse?
- Como seria ajudar a carregar o pesar/estresse/anseio/esperanças com você?