Jesus não é estranho à vida humana. Ele cresceu no ventre de sua mãe, entrou no mundo através do canal de parto ameaçador à vida, e dependia completamente de Seus pais inexperientes como um bebê indefeso. Ele teve que aprender e crescer, comer e dormir. Ele fez amigos e Ele perdeu amigos. Ele trabalhou com as mãos e usou o corpo físico para andar por lugares, confortar pessoas e mostrar ao mundo a glória do Pai. Até Sua morte e ressurreição foram a morte e ressurreição de um corpo físico humano. Quando comecei a ver a história mais importante que conhecia, a história de Jesus, como uma história da vida humana, comecei a aceitar o valor e a importância da minha própria vida humana – até mesmo as partes bagunçadas, ordinárias e repetitivas. Nesta estação de criação de meus filhos pequenos, comecei a ver meu corpo como um meio pelo qual participar de Cristo. Os banhos, a alimentação e o colo cotidianos não são mais totalmente irrelevantes para minha caminhada com Cristo; de fato, tornaram-se o próprio lugar em que posso encontrar com Ele. Já não me sinto derrotada pela mentira de que a minha estação de vida é incompatível com atividades nas quais sou capaz de encontrar-me com Deus. Eu descobri, nas rotinas mundanas simples da minha vida humana normal, que Jesus está interessado em estar comigo, me ama e pode até estar me ensinando a amar as coisas que Ele ama.
Jamie Smith escreveu um livro chamado We Are What We Love (Nós Somos o que Amamos). Neste livro, ele conclui que os seres humanos são formados mais pelos hábitos repetidos que praticamos, do que pelo conhecimento ou informação que alcançamos. Ele argumenta que hábitos repetidos determinam o que amamos, e o que amamos é o que nos move.
Que tipo de coisas você costuma fazer dia após dia? Em que direção esses hábitos estão orientando o seu amor?
Vou ser sincera, nesta estação da minha vida, tomo bastante café. Eu afirmo que é por causa das noites sem dormir acima mencionadas. Mas é também porque eu amo café. E meu hábito diário de tomar café só me faz amá-lo ainda mais! Mas há outras atividades nas quais eu participo diariamente, como aquelas com as quais comecei meu post anterior – servir minha família preparando comida cinco vezes por dia (as crianças pequenas são humaninhos famintos e exigentes), sacrificando meu sono para atender às necessidades dos meus filhos à noite, fazendo o papel de pacificador no meio de disputas entre irmãos, pedindo perdão aos meus filhos por minha impaciência para com eles, abaixando-me à altura deles para enxugar as lágrimas e ouvir suas lutas e deixando outro balde cheio de roupas manchadas de cocô de molho, graças às explosões do meu recém-nascido. Essas não são atividades habituais glamorosas, de fato. Não é o currículo comum da maioria dos programas de discipulado. Porém, ao estudar a formação e me imergir na vida de Jesus, posso dizer com confiança que estou aprendendo a participar com o Espírito Santo nos hábitos diários do meu lar. E que, ao participar dessas pequenas humildes e implacáveis ações de serviço e sacrifício, estou começando a amar mais como Jesus do que nunca. Não estou apenas sendo informado sobre Deus, ou tendo pensamentos corretos sobre Jesus (esses são importantes também); estou praticando viver o amor comprometido ao qual Ele me chamou. Estou colocando as necessidades de outra pessoa antes das minhas. Estou escolhendo compaixão sobre julgamento. Estou aprendendo a ver o mundo da perspectiva de outra pessoa. Eu estou pedindo perdão e perdoando. Estou crescendo em paciência (muito lentamente) à medida que me ajusto ao ritmo de uma criança pequena, passo por uma gravidez ou ensino uma criança a usar o banheiro. Estou participando de Cristo de todas essas pequenas maneiras. E a coisa maravilhosa sobre o contexto da parentalidade é que essas práticas não acontecem apenas uma vez. Eu incorporo essas ações diariamente, semanalmente e por anos a fio. Por isso, eles têm o potencial de me formar e moldar profundamente. Essa vida comum que vivo todos os dias tem o potencial de moldar meu caráter para se parecer mais com Jesus, pois reconheço que Ele caminha comigo.
João 15:4 diz: “Permaneça em mim e você dará muito fruto”.
À medida que aprendo a habitar em Jesus, a envolvê-Lo na rotina do meu dia-a-dia e nas ações simples do meu corpo, os frutos da gentileza, paciência, bondade e autocontrole crescem em mim e em meu lar, eventualmente se espalhando pela minha comunidade. Esta estação de criação dos filhos, por mais exigente que seja, não está destinada a ser um passo mais longe da presença de Deus. Na verdade, pode ser o caminho certo para buscar a Sua face.
Você é um pai ou mãe cansado, ansioso por encontrar Jesus no meio desta estação completa de sua vida? Não acredite na mentira de que, para encontrar Jesus, você precisa estar em outro lugar que não seja exatamente onde está hoje. Pense em maneiras pelas quais você possa reconhecer a presença Dele com você em quaisquer tarefas físicas que você possa ter hoje: lavar a louça, colocar uma criança na cama… etc? Como essa ação simples te conecta à vida de Cristo? Quais frutos do Espírito podem estar se desenvolvendo em sua vida por meio dessas ações físicas? Se você não está nessa estação específica da sua vida, quais são algumas das tarefas comuns e repetitivas que você faz todos os dias? Como você pôde desenvolver uma consciência de Cristo ao cumprir essas tarefas?
Talvez tenha algumas crianças em sua vida com as quais você possa passar algum tempo. Pratique estar presente ao Espírito Santo como você está fisicamente presente a esta criança. As realidades físicas comuns que enfrentamos fazem parte de nossa vida com Deus, como Jesus tão maravilhosamente modelou para nós. Jesus nos instrui a lembrar Dele através de nossos corpos; na prática tangível de comer pão e beber vinho. Ao fazer isso, conectamos nosso pensamento ao nosso corpo. Jesus nos instrui a batizar as pessoas como um sinal de sua nova vida Nele. A ação física de imergir uma pessoa na água e trazê-la para fora novamente conecta nosso pensamento ao nosso corpo. Nos anos errantes do deserto de Israel, Deus mostrou às pessoas Sua fidelidade por ser o provedor de sua comida e água diárias. Deus sempre esteve conectando nosso pensamento e conhecimento Dele às ações de nossos corpos.
Nas tarefas lentas e simples de nosso cotidiano, realizamos as grandes obras de amar a Deus e amar as pessoas. Como escreve Tish Warren-Harrison,
“Nas Escrituras, descobrimos que o corpo não é incidental à nossa fé, mas integral à nossa adoração”.
Seja um pai, um trabalhador, um professor ou um empresário, nossa fé é vivida não apenas nos cultos de domingo ou nos momentos de devocional matinal, mas nas horas confusas, imperfeitas, cheias de pessoas, de limpeza de casa e das horas de navegação de conflitos das nossas vidas diárias. Muitas vezes, vemos essas necessidades como um obstáculo às nossas ‘tarefas mais importantes’ com Deus, quando a verdade é que é ali mesmo que aprendemos a amar as coisas que o Pai ama e começamos a parecer um pouco mais com Ele.
Para explorar mais esse tópico, confira o e-book devocional de Michaela, A Parent’s Invitation to Spiritual Re-formation: How the Practices of Parenting Become Disciplines Leading Us Back to the Ways of Jesus