Eu estive fazendo a maior birra por mais ou menos 4 anos. Isso mesmo, você ouviu corretamente, quatro. Ninguém falou abertamente que se eu orasse, ofertasse ou me tornasse missionária Deus teria uma dívida comigo, mas meu cérebro de escola dominical escutou isso e ficou bem contente. Acontece que essa história me dá um pouco (leia-se MUITO) de controle na relação “eu-Deus” – e, como estou descobrindo, essa lógica é completamente imaginada e inventada. E também é terrivelmente frustrante e confuso quando ela para de funcionar.
Como sou um tipo de pessoa comprometida e perseverante, eu fazia “das tripas, coração”. Eu orava mais, lia mais, confessava, louvava, confessava de novo. Não há nada de errado com essas coisas, mas eu estava as fazendo para que Deus ficasse em dívida comigo e se sentisse obrigado a me dar o que eu queria.
Então eu assisti a uma palestra na qual o palestrante explicou o que eu estava fazendo: “mágica cristã”. Bom, isso não soa muito agradável! Era exatamente o que eu estava fazendo: estalando os dedos e esperando que Deus fizesse uma performance. Infelizmente nesse ínterim minha confiança, crescimento e habilidade de experimentar a bondade, o amor e a fé que fluem livremente de Deus, ficaram severamente atrofiados. No fim das contas, eu estava fazendo birra como uma criança de 2 anos porque minha versão da realidade (e meu teimoso desejo por estar no controle) e meu entendimento da História de Deus tem capítulos e seções completamente equivocados, influenciados pela minha cultura, experiência de vida e pela percepção de uma criança de 5 anos sobre as histórias contadas na escola dominical.
O evangelho como histórias de mudança.
Passamos por um longo período do Cristianismo Ocidental no qual a narrativa Bíblica da História de Deus tem sido reduzida a “Você é um pecador; Jesus morreu pelos seu pecado; faça uma oração para ganhar uma passagem para o céu; se comporte e Deus vai cuidar de você.” Nós perdemos o entendimento de que o Cristianismo e a narrativa bíblica estão baseados no conhecimento das coisas como elas realmente são e que a conversão ao cristianismo é uma mudança de histórias principais que tem impacto em todas as áreas das nossas vidas.
No livro Imagining the Kingdom: How Worship Works (Imaginando o Reino: Como a adoração funciona – tradução livre, ainda não publicado em português), James K.A. Smith descreve que cada cultura, comunidade e família é um grupo de pessoas que opera sob uma história principal que nos ensina como compreender e responder a qualquer coisa que acontece em nossas vidas. Essa história me diz quais são as coisas que tem mais valor, para quê ou para quem devo dar minha lealdade e comprometimento, o que dá sentido à minha vida. Ela me diz como ter reconhecimento, poder, valor e amor. Ela responde o que é inteligência. Me diz o que posso e o que não posso fazer, o que é aceitável dizer e o que não é (por exemplo: quais são os três assuntos que não devemos discutir na mesa?). Ela me diz o que é “bacana” de vestir o que não é, me diz o que é sucesso e o que não é.
Então eu desenvolvo uma imagem na minha cabeça de como a vida funciona, quem eu deveria ser e como a minha vida deveria parecer. A partir disso eu desenvolvo desejos (o que eu sonho ser e o que eu sonho ter? Ficar rico, ter uma casa grande, me casar com uma mulher bonita, ser magro e musculoso, ter uma pele sem defeitos e cabelo perfeito, estar no controle) e paixões (em que eu gasto meu dinheiro? Roupas bonitas e carros legais, tecnologia, esportes.) Esses desejos e paixões, por sua vez, geram objetivos (formar-me em uma universidade), hábitos (fazer dietas e malhar), e rotinas e rituais que me conectam à narrativa e à comunidade. Ao mesmo tempo, acabo me tornando uma propaganda ambulante da história principal porque vivo essa história e os valores da comunidade em tudo que faço: eu encarno a história.
Por que isso é importante?
A conversão ao cristianismo não é apenas sobre a morte de Jesus pelos meus pecados para que eu possa ir para o céu. É uma mudança de histórias principais. Uma transformação de realidades, de como percebo o mundo. Uma mudança de como imagino valor e poder, amor e sucesso. Uma troca no que dá sentido a minha vida e em como eu adquiro reconhecimento.
Essas imagens diferentes re-modelam meu coração e meus desejos e as coisas que eu amo, assim meus objetivos mudam. Na realidade, essa mudança re-estrutura a forma como meu cérebro pensa e imagina – ou você poderia dizer que renova meu coração e minha mente (Romanos 12:1-2).
Qual história eu encarno?
Deus não revelou uma teologia ou doutrina, mas sim uma história principal. Uma história pela qual devemos alinhar nosso coração e uma história para encarnar. A mensagem central de Jesus foi para nos arrependermos (mudança) e crermos pois o fim está próximo. Vemos o conceito de mudança de histórias principais ao longo de toda a Bíblia. Feliz aquele que vive desse jeito, triste aquele que vive daquele jeito. Deixe de lado o velho homem, viva de acordo com o novo homem. Viva pelo Espírito, não pela carne. Há duas maneiras de viver: Pela história principal de Deus ou pela sua.
Nas próximas semanas vamos dar uma olhada em alguns aspectos da história de Deus e como eles influenciam na nossa formação. Obrigada por se juntar à nossa jornada!
Algo para refletir
O deus da minha história é o Deus da Bíblia?
Como a minha história influencia como me relaciono com Deus?
A história que pela qual vivo será suficiente em meio a fracasso e perdas?
Já houve algum período na sua vida no qual parecia que o cristianismo “não estava funcionando”? Tire alguns minutos e pergunte a Deus se você tem uma percepção errada Dele ou de como o Reino Dele funciona.