Tenho lido e apreciado o trabalho de Robert Webber recentemente. Webber liderou uma mudança nos círculos evangélicos a recuperar alguns dos tesouros da igreja primitiva para nossa missão, adoração e forma de pensar (pós) moderna.
No apêndice de seu livro “Adoração antiga”, ele coloca uma pequena crítica aos modernos modos ou formas evangélicas de praticar a fé. (p 182 – versão em inglês).
Ele lista um número de aspectos comuns às expressões de fé evangélica modernas, mas três formas me chamaram a atenção:
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- Apenas conhecimento intelectual (simplesmente algo para ser compreendido)
- Foco excessivamente terapêutico (focada na cura ou realização das pessoas)
- Gnosticismo da Nova Era (orientado para experiências, focado no transcendental)
Ele continua dizendo que cada um desses focos deixa a Igreja com uma experiência que é inadequada para os desafios que enfrentamos no mundo atual.
Eu acredito que a lista de Webber é muito perceptiva e me fez perceber que cada um desses aspectos ainda existe hoje (quase 10 anos após a publicação do livro).
Creio que esses aspectos acabaram se tornando correntes ou denominações dentro do Protestantismo evangélico atual. Sem citar nomes, é bastante claro que certos movimentos populares no meio evangélico se encaixam em uma dessas categorias. Ainda que cada um desses aspectos frequentemente possa estar baseado em desejos que se encaixam em uma espiritualidade realmente cristã, eles muitas vezes são colocados como os aspectos mais importantes ou os únicos aspectos da vida espiritual. Normalmente é essa ênfase exacerbada que os torna destrutivos.
Os focos destrutivos do movimento evangélico explicados
Um foco único em conhecimento intelectual
Ainda que seja verdade que a vida cristã deve ser baseada no pensamento que vem de uma mente renovada, frequentemente aqueles que determinam uma renovação do vigor intelectual pelas escrituras, estão, à sua própria maneira, sucumbindo ao desejo de “resumir tudo” para, dessa forma “controlar” o ambiente. Até mesmo as expresses mais articuladas e ortodoxas podem se tornar jargões vazios de uma experiência cristã viva.
Um foco único no que é terapêutico
A espiritualidade cristã real cura, forma e reforma as pessoas de seu quebrantamento e da sua dor, e as torna pessoas humildes, conscientes de suas fraquezas e, de certa forma, pessoas com coração inteiro. Mas muitas vezes o impulso terapêutico descontrolado acaba tornando a espiritualidade cristã um espaço no qual a transformação é apenas para o próprio bem da pessoa. A Cura interior se torna uma investigação sem fim do seu próprio umbigo. Por fim, os frutos disso são pessoas que são egocêntricas e só se relacionam com os outros no “modo ajudante”. Embora o foco na cura interior pareça cuidadoso, ele pode implicar na própria natureza pecaminosa que é, como colocado por Lutero, “ser curvado sobre si mesmo”.
Um foco único no Gnosticismo da Nova era/ Experimentalismo
A espiritualidade cristã verdadeira envolve experimentar a presença empoderadora de Deus de um jeito que traz vida, amor e plenitude para o ser. O Gnosticismo da Nova Era tem a experiência como seu objetivo. Consistentemente busca e compara as experiências, criando projetos paralelos de teorias extra-biblicas e áreas de conhecimento especiais que surgem dessas experiências. O objetivo maior é sentir e as coisas que não criam essa sensação, não são de Deus. Outra consequência disso é um foco invisível, que leva a um dualismo no qual o mundo é ruim e o céu é bom. O objetivo se torna ir para o céu e deixar que a terra vá para o inferno. Como G.K. Chesterton disse, é possível ser “menos ortodoxo sendo mais spiritual.”
Como reconstruir a Espiritualidade Cristã
De várias maneiras você pode se identificar um pouco com o que descrevemos acima. Isso provavelmente acontece porque os erros mais destrutivos são aqueles que estão mais próximos das verdadeiras fontes de vida. Como mencionei acima, uma mente renovada, um coração completo e um vida EMPODERADA PELO ESPÍRITO são o centro da verdadeira espiritualidade cristã. Mas o protestantismo parece produzir infinitos grupos que focam em um dos dons de Deus ao ponto das pessoas acabarem LIMPING no discipulado. Está cada vez mais em alta ser PARASITIC e ficar desconstruindo o mundo evangélico mas esse não é o meu objetivo. Eu quero observar esses traços para considerar como eles podem ser redimidos para que os cristãos evangélicos possam reclamar seus testemunhos e vocação.
Então qual é o remédio para essas distorções da verdadeira Espiritualidade Cristã?
Ainda que seja um pouco presunçoso e simplista oferecer uma solução genérica para o estado do Cristianismo do século XXI, eu tenho algumas reflexões sobre como podemos recuperar alguns desses excessos;
Um retorno à narrativa Bíblica
Todos os erros que mencionei acima são praticados e perpetuados por uma falta de fundamentação na narrativa bíblica. Eu não estou falando de conhecimento bíblico. Muitas das correntes envolvidas nessas áreas podem citar versículos bíblicos para defender suas ideias. Mas falta reconhecer a abrangência geral da narrativa bíblica: criação – Israel – Encarnação – Crucificação – ressurreição – Ascenção – pentecoste, essa é uma narrativa para a qual somos chamados a participar. Para isso, precisamos de ensino, adoração cantada e comunhão para incluir lembranças continuas do que Deus tem feito na história da salvação. Isso nos encoraja a enxergar nosso lugar dentro dela e assim trabalharmos fielmente para o cumprimento dessa história a qual somos chamados a participar.
A missão de Deus
Quando é a narrativa bíblica que fundamenta a vida cristã, percebemos que estamos envolvidos na história de Deus que é a Sua missão. Não meramente um projeto de evangelismo restrito, mas vemos que toda a nossa vida está no centro do que Deus está fazendo para reconciliar toda a criação consigo. A missão de Deus nos ajuda a reconhecer que o objetivo da vida cristã é ser centrada no outro. O intelectualismo pode ser uma forma de se sentir mais inteligente do que os outros, o foco terapêutico pode ser um jeito de se sentir mais compassivo que os outros, o Gnosticismo pode ser uma maneira de se sentir mais especial que os outros. Cada um desses erros é essencialmente sobre o indivíduo, não são direcionados à criação de Deus que espera para ser reconciliada com o Criador.
Um compromisso com a Comunidade Cristã
A história da salvação de Deus e Sua missão nos ajudam a reconhecer que o propósito de uma mente renovada, um coração inteiro e uma vida capacitada pelo Espírito é mostrar ao mundo quem Deus é. Deus é três pessoas em uma, uma comunhão amorosa que se derrama em um ato de criação que dá vida. Ele está nos chamando a ser um corpo, unidos com seu filho e em nosso amor uns pelos outros, para o bem do mundo. Comunidade não é um adição à vida cristã, é tanto o veículo quanto o objetivo da visão de Deus. Nós não conseguimos aprender a amar e a viver pelos outros sem estar em uma comunidade próxima e à semelhança de deus com os outros. Como Lesslie Newbiggin disse: “a Igreja é a hermenêutica do Evangelho”. As comunidades cristãs são a forma pela qual o mundo vê se o evangelho é verdade ou não.
A história bíblica nos lembra que pode haver “um excesso de coisas boas”. Quando as coisas boas de Deus ficam desordenadas nos corações e nas mentes do seu Povo, isso se chama idolatria. Vale a pena refletir se estamos comprometidos em pensar melhor, nos tornarmos curados ou experimentar Deus de formas que podem estar na verdade nos afastando Dele.